Eu mudei meu coração de casa já no primeiro dia. As estantes não são tão grandes e cheias de livros sobre solidão e a casa não fica no Brooklyn. Não abandonei meus pais e nem meu país. A história da nossa rua e daquela sua esquina é bem mais bonita do que tudo isso. O guarda-roupas é ainda pequeno demais, a bandeira da Universidad de Chile, pela qual eu paguei un lukita a caminho do meu primeiro jogo em Santiago, esconde uma persiana de plástico um tanto mofada que a gente ainda não instalou. A arara tem apenas três cabides e meus pares de sapato estão ainda mal distribuídos entre o armário, a arara e todos os outros cantos da casa. A conta bancária mal tem dinheiro para chegarmos até o quinto dia útil de outubro sadios e bem nutridos. Mas do que reclamar, quando a casa de fato é não é sua nem minha, mas nossa?


Fonte:Fernanda Grabauska