O ano de 2009 tem tudo para ser lembrado como divisor de águas, ao menos para a indústria cinematográfica. Afinal, não é todo dia que surge um fenômeno comoAvatar, filme que passou a encabeçar a lista dos mais rentáveis da história ao atingir a incrível marca de U$ 2.7 bilhões, sobretudo num tempo em que a pirataria galopante derruba conglomerados do entretenimento como castelinhos de areia.
O êxito comercial proporcionado pelo feito é tamanho que tem dado até aos concorrentes motivos para comemorar. Entre os principais produtores de Hollywood parece ser unânime considerar a tecnologia 3D como tendência irreversível, um presente dos deuses quem sabe, capaz de numa só cajadada arrebatar hordas de espectadores para as salas de exibição e ainda aumentar o valor cobrado pelo ticket médio de entrada. Para os que desconfiam ser essa uma onda passageira, basta mencionar que nos EUA, já em meados de 2010, as três principais bilheterias (Alice no País das Maravilhas, Como Treinar o Seu Dragão e Fúria de Titãs) têm em comum a utilização do bombado efeito.
Posto isso, imaginem com que indignação não foi recebido o artigo que Roger Ebert escreveu há pouco para a Newsweek, intitulado de – já traduzido para português – “Porque eu odeio 3D (e você também deveria)”. Em meia dúzia de parágrafos o crítico descasca o hype de maneira copiosa e, de quebra, levanta uma bandeira, presumo, muito pouco popular atualmente. Agora mesmo está aí você, dizendo “puf… tem sempre um palhaço querendo aparecer..”. Mas, antes de condená-lo ao limbo dos descontentes, de tachá-lo como reacionário e inimigo do progresso, justiça seja feita, não é que o sujeito tem sua razão?
Entre os motivos pelos quais defende seu polêmico ponto de vista, Ebert cita a preguiça que o 3D tende a causar em médio prazo nos diretores, antes acostumados a contornar com criatividade as limitações do 2D. “Relembre as experiências cinematográficas mais significativas de sua vida. Seriam melhores com 3D?”, argumenta. Para ele, boa parte do leque de “truques” demonstrados até agora não passariam de meras distrações à trama principal dos filmes.
E não para por aí. Especialistas atestam que em torno de 15% da audiência de uma sessão em 3D está sujeita à náusea, dor de cabeça e embaçamento da vista. Ainda segundo o jornalista, há interesse da indústria em obrigar os proprietários de cinemas a substituírem seus projetores por outros muito mais caros. Quanto a esse aspecto, a despesa extra tem sido repassada para o consumidor sem grande resistência, ou você não percebeu, no bolso, que os ingressos são relativamente mais caros?
Outra cabível discussão proposta por Ebert é o limite do que é passível ou não de ser exibido em 3D. Thrillers de ação, comédias e animações podem até se beneficiar da tecnologia, mas, o que dizer dos dramas, documentários e suspenses? Não duvide que coisas estranhas virão por aí. A começar pela já revelada intenção de James Cameron de requentar, ops, re-lançar Titanic no referido formato.
Bom, está aí, exposto sobre a mesa, um prato cheio para detratores e defensores. Resta saber se, passado o compreensível entusiasmo inicial, seremos brindados por um uso racional do incremento. Até porque ninguém merece assistir Leonardo di Caprio gritando “I’m the king of the world!”, com os bracinhos abertos, em 3D. Não mesmo.
Via. Globo.com
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