sexta-feira, 25 de junho de 2010

TCHÁ, TCHARARÁ, TCHARARÁ, TCHURURURURURU!



Como diria o detetive Murtaugh, “I’m getting too old for this shit”. Mas quando eu era mais novo, adorava esses mega-festivais de rock. Tinha um grupo de amigos que ia a todos. O ponto de encontro era sempre algum boteco, onde rolava aquela “calibrada” etílica.


De lá, já partíamos pro estádio, pois gostávamos de chegar cedo, nem que fosse pra ficar “cornetando” as bandas das quais não gostávamos.
Nessas maratonas, debaixo de sol e chuva, enfrentando filas e os incontáveis atrasos das apresentações, um dos nossos passatempos preferidos era tentar adivinhar com que música esse ou aquele artista iria abrir o show.
A coisa chegava a tal ponto que muitos desenvolviam intrincadas linhas de raciocínio pra justificar seus palpites. Rolava aposta e comemoração quando alguém acertava. [O leitor mais jovem tem que entender que esses acontecimentos são de uma época em que a internet ainda não estava lá pra permitir que se acompanhasse, praticamente em tempo real, o repertório de cada etapa da turnê de um artista.
A vinda do AC/DC ao Brasil em 1996 marcou a única ocasião em que houve consenso - nós tínhamos certeza absoluta de que o show iria começar com Hard As A Rock. Afinal, a faixa tinha sido o primeiro single do Ballbreaker (álbum que a banda estava promovendo na época); e nós sabíamos (graças ao disco Live) que os shows da turnê anterior, do The Razor’s Edge, tinham começado comThunderstruck - justamente o primeiro single daquele álbum.
Pois quando Angus Young e sua trupe entraram no palco, foi no melhor estilo “pé na porta, tapa na cara” - despejaram logo Back In Black em cima da galera. E o gramado do estádio do Pacaembu ficou coberto com os fragmentos das nossas cabeças explodidas.
A banda australiana virou do avesso tudo o que nós achávamos que sabíamos a respeito de montagem de repertório - ao colocar um de seus maiores clássicos já na abertura do show, era como se eles nos dissessem: “Sim, nós podemos nos dar ao luxo”.
Lembro-me de, ainda criança, na era pré-MTV, ter visto na tevê alguns clipes do AC/DC (mais tarde, fui descobrir que eram das músicas Who Made Who e You Shook Me All Night Long).
No entanto, foi só na adolescência que eu me interessei de verdade pelo trabalho da banda, graças aos já citados The Razor’s Edge(Thunderstruck e Money Talks me incentivaram a comprar o LP) e Live(um primo meu, recém-chegado do Japão, tinha trazido a edição dupla em CD, que logo tratei de gravar em cassete).
O clipe de Jailbreak me apresentou ao Bon Scott. E, com o tempo, passei a curtir mais essa fase inicial do que a com o atual vocalista Brian Johnson.
Mas isso é apenas questão de gosto pessoal - o que realmente importa é que, mesmo depois de discos marcantes (como Let There Be Rock, o ao vivo If You Want Blood You’ve Got It e o magníficoHighway To Hell) e da trágica perda de seu frontman (Scott morreu em 1980, após uma noitada de bebedeira alucinada), a banda deu a volta por cima bonito. Com apenas dois álbuns (Back In Black e For Those About To Rock), Johnson conseguiu se consolidar como “a voz” do AC/DC - e a banda atingiu o auge do sucesso.
Independentemente de quem seja seu vocalista preferido, é inegável que a grande figura da banda é o guitarrista Angus Young - que pode perder para outros músicos em termos de técnica ou influência, mas que, na minha opinião, representa como ninguém a essência do rock, com suas performances enlouquecidas e seus solos incendiários.
Duvido que exista um moleque que, aprendendo a tocar guitarra, nunca tenha imitado os trejeitos do escocês maluco. Eu sei que eu imitei.
Aquele show de 1996 começou com explosões de cabeça, mas terminou da maneira como todo mundo esperava - com os canhões disparando em For Those About To Rock. E, de certa maneira, isso reflete bem a carreira do AC/DC.
Eles podem te surpreender de vez em quando (como com o uso do slide em Stormy May Day, faixa do mais recente álbum, Black Ice); mas, de modo, geral, você sabe muito bem o que esperar de um disco da banda. E é sempre bom ter instituições sólidas nas quais confiar.

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